Neutros

Cansou-me as flores 

em jardins neutros

o perfume da terra

perdeu a sedução

as gotas esquecidas

nos caules, chapiscados

por uma branda chuva,

ressecam enquanto 

o colibri procura outros 

distantes amores

cansou-me as chuvas

que levam folhas aos bueiros

e causam enchentes nos olhos

cansou-me o quadrado

encravado na memória humana

as tigelas vazias servidas

a multidões famintas 

cansou-me as paredes 

descascadas cobertas de cal

os neutros lugares

procuro as películas

que recobrem a nova flor

miscigenada fora dos jardins

...

não peço muito

apenas um bom café

uma prosa amiga

e desfolhar à tarde

antes da noite abraçar-me

...

Prefácios 

 um minuto
um pouco de silêncio
e um jardim


a vida
 os mistérios
de seu fim


descalçar-se  
dos preconceitos
 verdades e inverdades

momento de
abastecer a alma
em essência

encher de feto
o coração
gestar em si o amor

Tenho infinitas perguntas

neste mundo finito que sou.

Pensando...

Dura pouco o prazer

na intensidade de segundos

deixa sabor de esperança

e saudade futura.

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de que vale 

sair da cama

vestida de noite

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eu pequena via montanhas

agora tropeço nos cadarços

e as montanhas infantis

destoam canções nas brisas

da memória

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me perco no raso

fico a dar braçadas

e as margens

escapam de mim

tenho ânsia da terra

meus pés andam

soltos nos sonhos,

sem porto, ancorados

em quimeras

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